Era uma alegria que eu não consegui acreditar ao ouvir o meu nome “Ir. Olandina”

A minha experiência vocacional surgiu quando eu tinha 10 anos. Naquela altura, iam Irmãs Canossianas a fazer pastoral na minha terra. Andávamos com as Irmãs de um lado para o outro, fazíamos jogos, cantávamos, dançávamos, apanhávamos flores para enfeitar o altar da Igreja, etc.

A partir daí, eu comecei a querer ser como elas. Parecia-me uma vida muito livre, muito alegre, trabalhadora e serena. Mas, nunca disse a ninguém que queria ser freira como elas. Estava com receio de não poder realizar porque ainda era pequena.

Durante toda a minha adolescência, permaneci sempre com a mesma ideia, que iria ser freira. Não sabia como nem quando, mas, tinha a certeza de que seja como for eu iria ser freira.

Havia pessoas que estranhavam o meu proceder. Uns diziam que eu era diferente das minhas colegas e muitas vezes a minha resposta era simplesmente um sorriso ou quando me perguntassem demais, fazia de conta que não ouvia nada. Porque não queria revelar ainda o meu sonho de ser freira. Achava que seria muito estranho para eles (amigos), eu dizer que queria ser freira.

Quando tinha 16 anos, o meu mundo alargou-se e o meu sonho de ser freira começou a abanar. Aí era o início das dúvidas e os contrastes do meu sonho. Procurava não querer saber, mas, não era boa forma de resolver. Quer sim, quer não, eu tentava entrar no mundo da juventude e ser igual aos outros em alguma parte.

Ia às atividades e às festas da sociedade e da Igreja como o normal da minha terra (Timor-Leste) com família, amigos e parentes. Dançava, as vezes bebia, não cheguei a fumar a sério, mas, tentei etc. Porém estes eventos eram muito barulhentos e eu questionava-me cada vez mais.

Quando era pequena e adolescente também ia a estas atividades, mas, não me faziam confusão, porque o meu mundo era pequeno e era controlado.

Também participava nos grupos categoriais da capela (na minha terra), como: cruzada, acólito e coro. Quando tive que sair da minha terra, por causa do estudo, passei para os grupos da paróquia que estava mais perto da minha escola.

Andei a pensar, a pesar e a discernir durante todo esse tempo e queria chegar a uma conclusão. Senti-me mais serena e mais calma nos eventos da Igreja, mesmo com músicas e outras atividades que as vezes provocavam barulho.

Com 18 anos secretamente queria aproximar-me das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena em Remexio. Era muito tímida, por isso, no início não foi fácil. Mas, não queria desistir porque andei a observá-las, gostei e queria ser também como elas.

Havia e ainda há grupo de juventude dominicana e a partir deste grupo, aproximei-me das Irmãs. Procurava ocasiões nos encontros para falar com as Irmãs, mas, não tinha coragem. Já tinha andado com as Irmãs bastante tempo, mas, nunca mais consegui falar. Achava que já não iria conseguir.

Em outubro de 2018, as Irmãs convidaram as jovens que queriam fazer experiência vocacional e que podiam passar alguns dias na casa das Irmãs. Parecia-me que o convite abriu as minhas asas para voar. Isto, era o que eu andava a tentar e veio ao meu encontro!

Nestes dias de experiência, não disse nada à família. Depois havia mais hipótese de estar mais com as Irmãs durante um ano. Senti uma imensa alegria, que já não tinha receio de dizer que queria ser freira. Algumas amigas não achavam piada nenhuma. Mas, eu não me importava nada com as suas ideias.

Queria avisar os meus pais, mas, com calma para não chegar a grandes confusões. Podia haver confusões, mas, pelo menos não me impediam totalmente. No início havia dúvida dos pais, mas, resolveu-se e aceitaram.

No começo do ano de 2019, no dia 04 de janeiro, iniciei o meu pré-aspirantado. Vivia com as Irmãs, mas, continuei a ir na mesma às aulas, porque estava para terminar o décimo segundo ano.

No fim deste ano, havia muitos contrastes, alguns dos irmãos e muitos colegas queriam que eu fosse para a faculdade. Eu pensava que podia ir e quando terminasse a faculdade voltaria para o convento. Mas, senti que não era muito seguro, tinha receio de perder a vocação.

Dialoguei com a Irmã que estava a acompanhar-me acerca deste assunto e no fim disse-lhe que não iria já fazer a faculdade. Porque senti que não era seguro e não queria perder a vocação. A Irmã aceitou muito bem e disse que poderia fazer a faculdade mais tarde se a Congregação achar por bem e da minha parte foi tranquila.

No ano seguinte fui para o aspirantado em Same com duas colegas. Só fiz um ano em same e no ano seguinte voltei para Remexio para fazer o postulantado e entrei com uma colega. Uns meses depois, fiquei sozinha porque a colega decidiu voltar para casa. Então, havia duas opções, ou fazer Noviciado sozinha ou esperar a outra que estava para entrar. Optei por esperar a outra para fazermos juntas a caminhada.

No meio desse ano, ouvi dizer que iria fazer o Noviciado em Portugal, porque entrou uma postulante em Portugal e é Portuguesa. Para ela não fazer sozinha em Portugal e eu em Timor, o Conselho Geral decidiu juntar-nos. Da minha parte, disse à Mestra que não havia problema nenhum. Porque já estava a desconfiar e também já estava a contar que iria para qualquer lugar a qualquer momento. A minha família aceitou bem, não havia muita dúvida, porque também já contou com tudo isso quando entrei no Convento. Foi o que me disse a minha família quando dei a conhecer acerca disso.

No dia 06/12/2021, viajei com a Ir. Maria do Céu Mateus de Timor para Portugal. Chegámos no dia 07 à tarde. Tinham dito em Timor que em Portugal iria começar o inverno nesse mês e o inverno de Portugal e de Timor têm uma grande diferença. Mas, como vi que as Irmãs estavam a viver bem, por isso, não estranhei muito o frio sabendo que iria adaptar-me.

Senti que comecei de novo quase tudo por zero e adaptar-me a uma nova realidade era um desafio bastante forte, mas, ao mesmo tempo senti a força e coragem para avançar. Tentei adaptar-me com calma, dar tempo ao tempo, entrar na realidade do país e ia aprendendo com a vida.

Era e é uma experiência riquíssima, partilhar a vida, a cultura, o costume, a língua e os sentimentos como Irmãs e não como pessoas estranhas. Admirei muito este sentimento de irmandade. Senti algo novo que se eu pensasse nisso, seria impossível. Os meus sentimentos para com as Irmãs não me estranharam. Senti que eram minhas Irmãs mesmo que nunca as tinha visto na minha vida.

No dia 25/03/2022, iniciei o meu Noviciado em Aveiro. Era uma alegria que eu não consegui acreditar ao ouvir o meu nome “Ir. Olandina”. Foi o primeiro nome mais bonito que eu ouvi na minha vida. Aí o início de uma nova etapa que já não era como uma adaptação à realidade de um país, mas, uma relação de amor a uma nova vida.

Agora estou no fim do ano canónico e vou fazer o estágio durante seis meses como Irmã fora do Noviciado.

Obrigada

Benfica, 22/03/2023

Ir. Olandina Paula da Costa, Noviça timorense

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