Nunca tinha pensado em ser freira, mas no ano em que estava a fazer a preparação para o crisma, o padre da paróquia que nos estava a acompanhar fez uma pergunta a um dos jovens: “se Deus te chamasse a ser padre, tu aceitavas?”. Embora não tenha sido dirigida a mim, esta pergunta interpelou-me. Qual será a vocação à qual o Senhor me chama?
Com o passar do tempo deixei de pensar muito na vocação, embora soubesse que não podia adiar continuamente a procura da vontade de Deus para a minha vida.
Eu e a minha família visitávamos com regularidade uma Irmã Carmelita que vive no Carmelo de S. José em Fátima. Quando surgiram os primeiros encontros de discernimento vocacional organizados pelos Carmelitas, essa Irmã começou a convidar-me. Na altura já não estava com vontade de discernir a vocação, mas fui na mesma. Sentia que Deus me chamava a ser religiosa, mas o medo de que me estivessem a influenciar fez-me pensar que não era Deus quem falava, por isso pensei em não voltar a este tipo de encontros.
No ano seguinte comecei a ser convidada por uma Irmã Dominicana (que é natural da minha terra) para ir a encontros de jovens organizados pelas Irmãs Dominicanas. Não aceitei o primeiro convite por ser uma semana de missão, mas quando me convidou para o encontro seguinte acabei por aceitar porque era só um fim de semana.
Não gostei muito do encontro. Achava que não valia a pena voltar e pensava “se a minha vocação for a vida consagrada, não será de certeza nesta Congregação (das Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena)”.
Quando entrei na universidade, a questão da vocação ainda me perturbava, embora eu não quisesse pensar muito neste assunto. Comecei a perceber que ia ser difícil discernir a vocação depois de começar a trabalhar, por isso decidi voltar aos encontros de discernimento vocacional (organizados pelos Carmelitas) enquanto estava ainda a estudar.
Andei bastante baralhada. Chegava aos encontros a achar que a minha vocação era o matrimónio e saída dos encontros a questionar-me se Deus me chamava a ser consagrada.
Como nesta altura tinha decidido retomar o discernimento vocacional, pensei em voltar também aos encontros das Irmãs Dominicanas para começar a “excluir” Congregações, facilitando assim a minha escolha.
Fui ao encontro e, em vez de “excluir” como tinha planeado, Deus trocou-me as voltas. Desta vez gostei do encontro e senti que devia ir aos encontros seguintes. Por isso, inscrevi-me no encontro seguinte pouco tempo depois de abrirem as inscrições.
Desde que comecei a fazer discernimento vocacional que pedia a Deus que me ajudasse a perceber qual era o meu caminho e neste encontro continuei a fazê-lo. No final de uma das orações que tivemos à noite, os jovens foram saindo gradualmente, mas quem quisesse podia continuar em oração. Quando eu pensei em sair, o padre que estava nesse encontro pôs um cântico que falava de entrega. Parei e voltei a pôr-me de joelhos. Senti que era Deus quem me chamava através daquele cântico. Pedia-me que me entregasse a Ele. Foi aí que percebi que Deus me chamava a segui-Lo na vida Consagrada. Deus já me tinha dado muitos sinais, mas eu ia desvalorizando e achando que era impressão minha. Desta vez senti que foi mais claro e por isso, nesse dia disse a Deus o meu primeiro sim no caminho da vocação.
Entretanto, comecei a ir também a encontros organizados pelas Irmãs da Aliança de Santa Maria para ir conhecendo várias Congregações.
Como eu estudava em Leiria, comecei também a rezar regularmente com as Irmãs Dominicanas e assim fui conhecendo mais de perto a Congregação.
Queria novamente “excluir” Congregações, mas sentia-me bem em todas elas, o que dificultou a minha escolha. Aos poucos Deus foi-me orientando, sem nunca ser preciso deixar de gostar de nenhuma das Congregações.
Em agosto de 2020 fui convidada pelas Irmãs Dominicanas a fazer um mês de voluntariado numa das Comunidades, para ajudar as Irmãs mais idosas. Aí percebi como se punha em prática o lema de Teresa de Saldanha de “Fazer o bem sempre e onde seja possível”. As Irmãs, mesmo as mais idosas e doentes, não perdiam oportunidades de se ajudarem mutuamente e, quando não o conseguiam fazer, pediam ajuda. Nos momentos que eu tinha livres, aproveitava para ir à capela pedir a Deus me ajudasse a perceber qual seria o meu caminho. Numa das noites, quando pedia ao Senhor um sinal, senti interiormente algo a dizer-me “que mais sinais precisos? Ainda não é claro?”. Realmente não tinha de ter medo, era aqui que Deus me queria. Tomei nesse dia a decisão de entrar na Congregação, embora não o revelasse a ninguém. Uns dias mais tarde, a Irmã que me estava a acompanhar perguntou-me diretamente se eu continuava indecisa. Foi o momento de revelar que já tinha percebido que Deus me chamava a fazer parte desta Congregação.
No mês seguinte comecei a primeira etapa de formação: o Aspirantado. Durante esta etapa ainda não estava a viver na casa das Irmãs porque estava a acabar o último ano do curso. Neste ano de Aspirantado fui começando a conhecer o carisma da Congregação, a Madre Fundadora (Teresa de Saldanha) e Santa Catarina de Sena.
Um mês depois de acabar o curso, entrei na segunda fase de formação: o Postulantado. Nessa altura passei a viver com as Irmãs. Fui aprofundando o que tinha aprendido no Aspirantado e conhecendo também a vida de S. Domingos.
Há cerca de um ano comecei a etapa do Noviciado. Nesta epata tenho aprofundado o conhecimento que fui desenvolvendo até agora e intensificando a minha vida de oração. Este é um tempo de silêncio, estudo e oração mais intensa, em que vamos fundamentando estes aspetos para que os consigamos ir pondo em prática ao longo de toda a vida.
Agora, ainda nesta etapa do Noviciado, vou iniciar um tempo de estágio, em que vou viver para outra Comunidade das Irmãs, vivendo mais ativamente a vida comunitária.
Vou avançando com alegria neste caminho, confiando que “Deus olha-me sorrindo para me dar força”, tal como afirmava a Venerável Madre Teresa de Saldanha, fundadora desta Congregação.
Ir. Ana Sofia Castelão das Mercês, portuguesa